O mais recente filme em produção da TV OVO explora a conexão entre a pandemia de COVID-19 e a peste bubônica que assolou Santa Maria há 100 anos. Tempos de Peste, que integra o projeto Por Onde Passa a Memória da Cidade 2021, recupera um fato histórico e o entrelaça com o tempo presente, trabalhando como a cidade, enquanto sociedade que divide um espaço geográfico e cultural, se coloca frente a espiral da vida.
Atualmente, Santa Maria tem quase mil vítimas acometidas pelo novo coronavírus. Em 1912, cerca de 18 vidas se foram em razão da peste bubônica que chegou até a cidade a partir de uma carga de farinha vinda da Argentina para abastecer uma padaria. O número de mortes é distante, mas quase duas dezenas de pessoas era um dígito expressivo para o tamanho da cidade no início dos anos de 1900.
O filme perpassa as semelhanças e diferenças que unem as duas histórias separadas por um século. Trabalhar com a questão da perda e a dor que ela traz é desafiador. Esses acontecimentos traumáticos são capazes de desvelar o lado mais cruel do ser humano, mas também podem despertar um ímpeto de solidariedade coletiva.
Para estabelecer a ligação entre as duas épocas, a equipe definiu o rato como elemento importante para a narrativa do filme. Na peste bubônica, o animal era o principal vetor da doença. Já na pandemia de COVID-19, ele está presente de forma mais subjetiva. “As crises sociais e o aumento da miséria e do desemprego são ocasionados por homens e mulheres que têm um comportamento semelhante ao do rato, espalhando o mal que, além de ser um problema de saúde pública, reflete nessas questões sociais que geram falta de perspectiva e medo”, explica o diretor.
Esse documentário contou com uma consultoria de roteiro organizada em vários encontros com a diretora gaúcha Mirela Kruel, premiada na última edição do Festival de Cinema de Gramado. A equipe já tinha ideias sobre o filme, mas foi na consultoria que surgiram as referências e o filme foi sendo lapidado. “Eu propus para a equipe sair um pouco do convencional e pensar o documentário como uma experiência também poética, então, eu acho que esse filme vai ter um pensamento estético muito apurado”, comenta Mirela.
O filme terá como personagens sociais uma agente de saúde que atua no combate ao novo coronavírus e, assim como tantas outras pessoas, perdeu familiares para a doença; e a filha do único sobrevivente de uma família atingida pela peste bubônica em Santa Maria.
O documentário Tempos de Peste conta com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria, LIC/SM e faz parte do projeto Por Onde Passa a Memória da Cidade 2021.
Por Giovana Dutra, Neli Mombelli e Tayná Lopes