Hoje é dia mundial do Meio Ambiente. Não pretendemos falar do quão importante é esse tema, mas vamos repetir que ele deveria ser pautado diariamente, assim como outros assuntos que se fazem urgente de serem discutidos em nossa sociedade. Entre eles, a questão indígena, que está diretamente ligada ao meio ambiente. Os indígenas são os guardiões das florestas e quem têm uma relação muito distinta e respeitosa com a natureza. É nesse contexto que compartilhamos o trailer do nosso novo documentário: Quando te Avisto (2020, 24’).
O que acontece quando dois olhares se cruzam? E se esses olhares compartilham de um mesmo espaço, mas se constituem em mundos próprios? O que afasta e aproxima indígenas e não indígenas? Entre colonizações e apagamentos históricos, disputas de territórios, presença e invisibilidade, o legado das comunidades indígenas é o da existência através da resistência ancorada na sua espiritualidade, no respeito às diferenças e no vínculo com a natureza.
A ideia para o documentário surgiu em 2018, durante a realização da série documental sobre os nove distritos que formam Santa Maria. Ao registrar essas histórias, nossa equipe se deparou com muitos relatos da presença indígena na formação desses lugares e de como essa narrativa é pouco abordada. “Como a gente fala sobre a história e a memória da cidade, precisávamos falar sobre a questão indígena, porque é a origem da cidade, e não só daqui, explica Neli Mombelli, que dirige o documentário junto com Denise Copetti.
O documentário estava programado para ser lançado nas aldeias de Santa Maria e na Feira do Livro da cidade, prevista para ter ocorrida em maio. Porém, devido a pandemia do novo coronavírus e prezando resguardar a saúde de todos, estamos estudando a melhor forma de realizar o lançamento do filme.
A construção da narrativa do filme e os aprendizados
Falar sobre a presença indígena em Santa Maria tem alguns desafios, como, por exemplo, a escassez de capítulos que abordam a existência desses povos na história oficial sobre a formação da cidade. “A gente sabe que as histórias dos povos e das aldeias são contadas oralmente e passadas de geração para geração. As histórias deles não são registradas [no papel]”, comenta Denise. O filme buscou construir uma narrativa atual sobre a questão indígena a partir das etnias Guarani e Kaingang, que possuem aldeias no município, além de entrevistar acadêmicos que moram na Casa do Estudante indígena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Para construir a visão do documentário, houve muitas trocas com as aldeias. Na tentativa de buscar um protagonismo indígena na construção da história do documentário, nossa equipe trabalhou com oficinas audiovisuais na aldeia Kaingang Três Soitas e na aldeia Guarani Mbyá Tekoá Guaviraty Porã. “Justamente como uma forma de aproximação, para a gente não chegar lá e dizer: estamos fazendo um documentário sobre indígenas e viemos aqui gravar vocês. A gente não queria isso, queríamos que eles construíssem esse documentário, de certa forma, com a gente.” relembra Neli. E completa: “Foi um misto de pesquisa, de ideias, de entrevistas e de trocas com essas duas comunidades indígenas que resultou o Quando te Avisto.”
E retomando o gancho do meio ambiente, ao ser questionada sobre se algo a fez repensar alguma questão do mundo da vida durante a produção do documentário, Neli elenca a relação com o tempo presente, com a natureza e com o território. “A relação que os indígenas têm com a noção de território não contempla essa divisão geopolítica. É uma ideia de circulação por espaços e por afinidades e como tu trabalha aquele espaço. Ele não é tua propriedade, mas ele é um espaço que te fornece a possibilidade de sobrevivência, e dele se retira a sobrevivência, mas não o lucro.” Sobre o tempo, ela diz que a sabedoria indígena a ensinou olhar para o presente, muito antes de a pandemia chegar. “A gente precisa viver e fazer o agora. O futuro é sempre algo por vir, ele nunca se materializa.”
O documentário foi financiado pela Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria, LIC/SM e faz parte do projeto Por Onde Passa a Memória da Cidade 2019.
Por: Lívia M. Oliveira