Se a notícia é o lugar comum do jornalismo, lugar em que as perguntas básicas de uma apuração são capazes de informar minimamente o leitor, ouvinte ou telespectador sobre determinado assunto, a reportagem é a ferramenta que possibilita ao repórter problematizar mais a fundo um determinado tema. Mas, passados os anos-dourados da grande reportagem como o trunfo que estampava capas de jornais e revistas, a crise no modelo de negócios do jornalismo industrial tem imposto dias ruins às grandes redações, que veem suas vendas e assinaturas caírem vertiginosamente, e aos próprios jornalistas, que, se não acabam desempregados em revoadas de passaralhos, tem suas atuações limitadas pelas condições de trabalho em quadros enxutos de funcionários.
Em teoria, o advento da internet – e, principalmente, o aumento no número de pessoas com acesso à internet (mesmo que esse número aponte uma exclusão de metade da população brasileira) – teria sido o responsável pela quebra no modelo de negócios estabelecido, e, então, pela impossibilidade de se realizar um jornalismo amplo, diverso e profundo, com o emprego de tantos recursos quanto fossem necessários, e que chegasse a tantos leitores, ouvintes e telespectadores como antes. Se hoje nenhum teórico no mundo conseguiu chegar à conclusão de um modelo viável para a atividade e se vários veículos estejam se rendendo a listas buzzfeedizadas e caça-cliques, isso não significa que não existam iniciativas e pessoas que persistam na realização de um jornalismo que segue os grandes preceitos da profissão. Iniciativas como o financiamento por crowdfunding ou a apuração virtual de grandes bases de dados, como no recente caso dos Panama Papers, mostram como os aspectos do coletivo e do virtual têm sido essenciais para o desenvolvimento de reportagens que efetivamente mexam naquilo que está posto.
É com a ideia de debater sobre o exercício da grande reportagem no Brasil – da maneira como se deu nos últimos anos e de como a internet tem influenciado a prática do jornalismo – que traremos, à Santa Maria, profissionais de naipes variados e que são reconhecidos por suas reportagens. São profissionais garantidos em grandes veículos por uma longa carreira de sucesso, como é o caso de Mauri König, que atuou por muito tempo como repórter da Gazeta do Povo de Curitiba e hoje escreve para Folha de São Paulo, e de Humberto Trezzi, repórter da Zero Hora, de Porto Alegre, ou garantidos em novos espaços nascidos nesta década de incertezas, como é o caso da Andrea Dip, repórter da Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo.
No próximo dia 12 de maio, não sairemos do Theatro Treze de Maio com conclusões definitivas sobre como o jornalismo passará a ser executado. Longe disso. Duvidamos também que alguém saiba nos dizer. Esperamos, porém, que após a conversa com aqueles que praticam um jornalismo de qualidade no país, a partir das 19h, muitos possam sair do Theatro minimamente inspirados para fazer o mesmo.
E para quem quiser mais debate, às 16h do mesmo dia tem outra conversa sobre Novas plataformas, debate público e agendamento na era da internet. O colóquio é uma realização da TV OVO em parceria com o curso de Jornalismo da Unifra e com o programa de pós-graduação em Comunicação da UFSM. Senhas poderão ser retiradas pelos acadêmicos junto aos cursos de jornalismo e para o público em geral na portaria do Theatro.
Por William Boessio