A live de lançamento do documentário Quando te avisto pela página do Facebook e Youtube da TV OVO, na última quarta-feira (30/09), trouxe Patrícia Ferreira, professora e cineasta, Rodrigo Kuaray, advogado indígena, e Yago Queiroz, etnojornalista e fotógrafo, para debater sobre o audiovisual como ferramenta de representação dos povos indígenas (acesse o debate aqui).
Os convidados abordaram questões para refletir e discutir sobre a forma como enxergam os processos da produção audiovisual dentro e fora de suas comunidades, sobretudo, a contradição da percepção de tempo que permeia o mundo indígena e o mundo não indígena. Além disso, o debate, com mediação das diretoras do documentário, Denise Copetti e Neli Mombelli, levantou a resistência e luta desses povos na preservação do meio ambiente e demarcação de terras, causas cuja visibilidade vem sendo potencializadas através de projetos audiovisuais em que os jovens se familiarizam com ferramentas de gravação e técnicas aprendidas em oficinas e nas escolas indígenas.
“A gente usa o audiovisual por necessidade também. Esse olhar é muito importante para registrar esses acontecimentos dentro da aldeia, ou fora dela”, afirma Patrícia. A cineasta e professora, que trabalha com jovens desde 2008, ressalta que os indígenas têm aprendido uma nova maneira de lutar pelas suas causas, e uma delas é através do audiovisual. “A gente não descansa, não cansa de lutar, e acho que falta muito ainda para a gente dizer que está tudo bem”, ressalta.
A captação de imagem nas aldeias foi uma das questões levantadas, já que a oralidade é bastante preservada nas comunidades, especialmente pelos mais velhos, dessa forma, os convidados destacaram a importância de praticar o que Yago chamou de “demarcar as telas”, e que para isto a comunicação tem sido fundamental. E que também o registro realizado por indígenas consegue ir mais a fundo na representatividade porque, entre outros fatores, como o entendimento de como funciona a lógica dos povos indígenas, os mais velhos terão mais confiança para falar com quem é do seu povo do que falar para realizadores não indígenas.
Cerca de 60 pessoas acompanharam a live seguida do debate, entre elas Isabel Cristina Baggio, professora da escola Kaigang Ope Augusto da Silva, da aldeia Três Soitas de Santa Maria. Isabel enfatizou a relevância do evento segundo a sua visão como educadora: “Acredito que o debate foi muito importante, informativo e conscientizador, pois muitas pessoas não conhecem a realidade dos povos indígenas, sobretudo na nossa cidade, suas lutas e resistência para manter a sua cultura. Creio que o conhecimento sobre a cultura é um ponto importante para combater o preconceito que estas comunidades sofrem, fruto da ignorância”.
Ela também comentou a respeito das oficinas que a TV OVO realizou nas aldeias de Santa Maria antes de gravar o documentário Quando Te Avisto, e que deverão ter continuidade pós pandemia, quando for possível circular com todos em segurança.“As oficinas estão sendo bem importantes pelo conhecimento construído juntos. É uma troca de saberes muito linda! Os alunos, além de se apropriarem dos conhecimentos sobre tecnologia, realizam ao mesmo tempo uma experiência de comunicação, pois todos tem de refletir e saber comunicar-se em grupo sobre os trabalhos realizados em equipe durante as oficinas. Este resultado é fruto da delicadeza e respeito da equipe da TV OVO ao se aproximar da comunidade, respeitando seus ritmos e tempos”, argumentou Isabel.
Esse cuidado também foi enfatizado pelas diretoras do documentário, que definiram como desafiador o processo de aproximação e compreensão de um universo cultural que era até então distante. “Para mim, o que ficou foi um aprendizado sobre o tempo, a me repensar enquanto sujeito no mundo. A cultura indígena está muito presente no nosso dia a dia, porém, foi um desafio muito grande ir para as aldeias, a gente teve medo de desrespeitar de alguma forma, e tentamos ter o máximo de cuidado”, afirma Neli.
Ainda, Rodrigo Kuaray e Yago Queiroz comentaram a respeito dos seus trabalhos de conclusão e curso (TCC) recentemente defendidos em terras indígenas e com temas voltado para seus povos. Rodrigo se formou pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e defendeu seu TCC, intitulado Violações aos direitos constitucionais dos povos indígenas: impasses e perspectivas, na aldeia guarani Tekoa Guaviraty Porã. Pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), do Paraná, Yago defendeu a pesquisa intitulada O caminho de volta da universidade para a comunidade: uma reflexão sobre etnoparticipação e etnojornalismo no Projeto Nhandereko Eg Kanhró na Terra Indígena Apucaraninha, da etnia Kaingang.
O evento online foi contemplado no Edital FAC Digital RS, uma iniciativa da Secretaria da Cultura do RS, Universidade Feevale e Feevale TechPark.O curta faz parte do projeto Por Onde Passa a Memória da Cidade 2019, financiado pela Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria (LIC/SM).
Por Eduarda Manzoni