O dia 3 de novembro foi a data de encerramento da 13ª edição festival Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC) com a cerimônia de premiação. E nós trouxemos alguns troféus para o ninho. Foram quatro curtas premiados: Flipando Ideias e M, curtas desenvolvidos por alunos de escolas públicas, produções que receberam menção honrosa pelo trabalho coletivo e pela temática abordada. E na mostra Santa Maria e Região, Existência, de Paulo Tavares, recebeu o troféu Lanterninha Aurélio e direção de fotografia para Alexsandro Pedrollo de Oliveira. Feminino Substantivo, de Neli Mombelli, recebeu o Vento Norte do júri popular, melhor trilha sonora original para Rodrigo Tranquilo e o prêmio de melhor curta do festival. Ao todo, foram 34 filmes selecionados, sendo que 14 concorreram na mostra nacional e 11 disputaram a mostra de Santa Maria e região.
O tema do SMVC este ano foi “Cinema Para Todas”, reforçando o protagonismo feminino no audiovisual. E aqui na TV OVO não pensamos diferente. Um exemplo disso é o documentário Feminino Substantivo, um filme que registra a maior manifestação de mulheres da história do Brasil. Em nossas produções buscamos representar, abrir espaço e evidenciar as mulheres na nossa sociedade. A diretora do curta e integrante da TV OVO, Neli Mombelli, reforça: “Ser mulher, embora possamos estar em grande número, ainda é ser parte de uma minoria na sociedade, que está constantemente em busca de seus direitos. O Feminino Substantivo reuniu a opinião de mulheres, de diferentes graus de escolaridade, idade, raça, orientação sexual, que estavam na rua no dia 29 de setembro de 2018 se ouvindo e projetando sua voz para que fossem ouvidas, porque ser mulher é ser marcada de muitas formas, tanto objetivamente quanto de forma simbólica, e essa marca atravessa os nossos corpos. Então, esse filme é uma homenagem a todas as mulheres e que também mostra o quão forte somos e o quanto podemos e devemos transformar a sociedade para que haja mais respeito, equidade e igualdade.”
Outro curta que aborda a temática feminina é M, resultado da oficina Olhares da Comunidade realizada na Escola Municipal de Ensino Fundamental Sérgio Lopes. O curta que ganhou menção honrosa por temática e direção coletiva, traz quatro histórias que mostram as dificuldades, os estereótipos e proibições que mulheres de várias idades enfrentam diariamente. Sobre M, Yasmim, aluna da escola Sérgio Lopes, conta: “Desde que deram a ideia de fazer o vídeo sobre mulheres, todo mundo já ficou muito animado. É algo importante para todas nós. Eu acho importante mostrar para as gurias tópicos como esse, mostrar o quanto nós já conquistamos e ainda temos tanto para conquistar, que essas gurias se sintam motivadas a mudar o mundo sendo elas mesmas, sendo mulheres, sendo respeitadas. Ter ganho um prêmio com esse vídeo realmente nos motiva ainda mais a continuar!”. Andreia Schorn, diretora da escola, também nos contou sobre a sensação e o significado deste prêmio. “Um orgulho gigante! Sinto ainda felicidade porque a escola acredita e acolhe projetos e parcerias como a da TV OVO e esse dia de glória é fruto dessa fé em uma escola pública de qualidade integrada com parceiros e com a comunidade. É muito bacana, porque a gente se aproxima da arte de produzir cinema e o cinema é um multiplicador de olhares, de ideias, de lutas… Assim o universo audiovisual fortalece a luta da nossa comunidade contra as constantes tentativas de apagamento da nossa escola, dos nossos estudantes. Sabemos que a invisibilização serve para tentar calar vozes e negligenciar direitos, por isso, o cinema produzido por nossos estudantes e pela TV Ovo é importante. Dar visibilidade a essas lutas e aos estudantes é profundo ato de resistência. E neste momento de um governo tão opressor, é ainda mais imprescindível”, disse.
Sobre o documentário, ela afirma: O M aborda a pluralidade da comunidade, aborda meninas e mulheres que desejam ser o que quiserem ser e que talvez até esse momento nunca sentiram suas lutas representadas. Ele as estimula, as incentiva, as faz dar um novo passo para uma outra educação possível, uma nova maneira de ver e pensar sobre o modo de vida, do lugar onde moram… é uma forma de superação dos preconceitos e discriminações que todas nós mulheres enfrentamos em algum momento da vida. O M representa para nós que nossas narrativas importam, que nossas histórias são encantadoras e que temos que seguir nos inspirando e transformando a cultura para que meninas e mulheres se sintam bem e plenas em seus propósitos de vida”. É nesse sentindo que Flipando Ideias também gera inspirações para outras lutas. Também fruto da oficina Olhares da Comunidade, neste caso com alunos da Escola Reverendo Alfredo Winderlich, da Vila Santos, o documentário traz para o debate os temas da juventude, da negritude e o de ser skatista. Esse “combo”, como os meninos chamam, é carregado de preconceitos e estereótipos na sociedade que os marginaliza antes mesmo de os conhecerem.
Outro curta premiado foi Existência, que explora o plano-sequência. Alexsandro Pedrollo foi o responsável pela direção de fotografia. O prêmio de 2019 se junta com os prêmios de 2009, 2011 e 2013 que ele já venceu. “O desafio de um plano-sequência é construir a fotografia contínua. Já é complicado fazer a fotografia com o set estático, mas pensar a fotografia com o plano-sequência é bem complicado porque tem que pensar todos os lados que a câmera for mostrar”, conta Alex. Sobre a importância da fotografia, ele diz: “A fotografia é o cartão de visita, é o que vai dizer para o que aquele vídeo veio. Não adianta ter um bom conteúdo, uma boa narrativa e não ter uma estética interessante que seja confortável e atraente para a pessoa assistir. O audiovisual não é só conteúdo, ele necessita obrigatoriamente de uma estética agradável que converse com a narrativa e com o conteúdo […] O principal objetivo da fotografia é fazer com que espectador se esqueça do mundo e mergulhe na história”.
Paulo Tavares foi diretor, roteirista e ator do curta, que ainda contou com todos os integrantes da TV OVO para a gravação, já que um plano-sequência demanda muita gente na produção. “Eu trabalho no audiovisual há muito tempo, mas sempre fugi dessa questão de atuar, prefiro estar atrás das câmeras do que na frente. Mais estranho ainda porque fiz o roteiro, atuei e dirigi. Quando eu vejo o filme sempre acho algo que eu poderia ter feito diferente, isso para mim é complicado. É legal ver o filme, mas sou muito crítico com a minha atuação”, conta. O personagem enigmático interpretado por Paulo nasce devido a um processo criativo do teatro. “Quando criei esse trabalho, ele era um personagem que aparecia, dizia o poema que eu escrevia e trazia um mistério para os outros participantes do processo, motivando eles a criarem poesias. Quando a gente trouxe para o Existência ele já era outro personagem.” A ambiguidade do personagem, segundo Paulo, é intencional: “No contexto da história, ele pode ser real, fruto da imaginação de alguém ou até um fantasma. Fica a critério do espectador decidir quem é esse senhor que aparece para falar da existência daquele menino […] O legal do filme é que cada um entenda quem é esse personagem conforme suas experiências. Eu tenho várias ideias desse personagem porque ele pode ser muitas coisas”. O grande mérito do curta para Paulo é “mostrar para quem quer fazer cinema que é possível. Mostrar que há maneiras diferentes de narrar, de contar uma história que não seja da maneira tradicional, de um personagem que está vivendo uma ação. Mostrar que para fazer filme é preciso experimentar, ousar”, afirma ele.
É maravilhoso ver os nossos trabalhos sendo reconhecido. Mas o maior prêmio que recebemos não está nos troféus e, sim, nas histórias que esse filmes carregam. Quando eles chegam no espectador e impactam é a melhor coisa que pode acontecer para qualquer obra audiovisual. E nesse processo ter retornos como o da professora Andreia, que comenta a respeita do nosso trabalho de formação nas escolas: “Eu vejo a TV OVO como uma semeadora, uma força que procura pela curiosidade dos estudantes, que faz arte e produz conteúdo embasado no modo de vida das ‘nossas gentes’. Vocês possibilitam a escuta de histórias, territorialidades, tempos, lutas, vozes, crenças, artes, vínculos a serem reconhecidos, compreendidos e assim, respeitados. Parabéns!” Nós que agradecemos pelo carinho e pela oportunidade de continuarmos fazendo do audiovisual uma ferramenta de representação da diversidade do nosso país, de nossas histórias, lutas e realidades. Isso é o que nos motiva a seguir.
Por Bernardo Silva