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Depois daquele dia ainda somos os mesmos?

“Este filme é uma história de amor. O amor que todos nós sentimos pelos nossos filhos”, disse o pai de uma das 242 vítimas do incêndio da Kiss, Paulo Carvalho, depois de assistir ao documentário Depois Daquele Dia, que teve pré-estreia na noite de ontem (26) na Praça Saldanha Marinho. Mais um 27 de janeiro que Santa Maria silencia, mesmo em uma praça lotada de espectadores, e busca nos abraços que acomodam a dor uma forma de refletir sobre os cinco anos da tragédia.

A diretora Luciane Treulieb – irmã de uma das vítimas, João Aloísio Treulieb – narra, do ponto de vista pessoal, como foi para ela encarar a morte do irmão e como a cidade reagiu. São 10 depoimentos – jornalista, engenheiro, psicólogo, sociológico, professor, jovem, sobrevivente, pai de vítima, entre outros – que trazem pontos de vista diversos sobre o tema. Em 51 minutos a dor que toda a cidade sente ao lembrar do incêndio é traduzida de alguma forma, com uma sutileza que emociona. A cidade que já foi dos ferroviários, dos universitários, da cultura, agora é a cidade da Kiss, inevitavelmente, e o documentário vem para mostrar que isso não precisa ser ruim.

“Sinto um misto de emoções. Não era um filme que eu gostaria de ter feito. Mesmo assim, estou orgulhosa”, declarou Luciane, ao fim da exibição. Ela também deixou claro que o documentário não é sobre a morte, mas, sim, de como Santa Maria vive e recomeça depois da tragédia.

Depois Daquele Dia_pré-estreia_web
Foto de Pedro Piegas

Para a jornalista e pesquisadora da área audiovisual, Marilice Daronco, o filme traz perguntas aos entrevistados de inquietações que mexem com quem vive na cidade, questões que ficam “entaladas” na garganta em forma de nó. “O que considero como grande diferencial em Depois Daquele Dia é como a diretora consegue entregar a sua dor a quem a assiste. A narrativa em primeira pessoa tem uma razão de existir, tem uma carga de sentimento como se espera desse tipo de documentário, mas que nem sempre é alcançado, e ela conseguiu”, salienta Marilice.

O documentário, que tem a produção da TV OVO e é parte do trabalho de conclusão do mestrado em Periodismo Documental realizado pela diretora na Universidad Nacional de Tres de Febrero, da Argentina, ainda será licenciado para que seja exibido na televisão e deve participar de festivais de cinema nacionais e internacionais ao longo do ano.

Veja o trailer

 

Por Jaiana Garcia

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