Professores, estamos vivos!

Na entrevista de emprego: – Qual a relevância do dinheiro para ti? – O suficiente para que eu saiba que dinheiro compra tickets de viagem, mas não o bastante para passar por cima de alguém ou ser cúmplice de algo que eu não concordo. – E se precisasses escolher entre dinheiro e reconhecimento? – Bom, eu ficaria com o reconhecimento… Gosto de saber que estou fazendo algo de importante para alguém. “Será que eu falei muito “tipo”? Tudo bem. Eles gostaram de mim”, pensei, voltando para casa com o coração pulsando expectativas. Contei para o meu pai todas as perguntas e respostas. Ele me olhou e disse, com o deboche que generosamente doou ao meu DNA: “foi bem, foi bem. Mas vão querer te pagar com elogios…”

A minha conclusão, depois de alguns minutos de autocrítica, é a de que se alguém é capaz de me explorar em função da minha resposta, então o problema não é a minha resposta. Eu é que não vou perder uma noite de sono – que perca quem explora os seus funcionários. Os economistas que pensem como preferirem, mas eu acredito que viver um pouco alheia ao dinheiro não é um perigo, é um privilégio – a pauta “dinheiro” quase sempre surge como uma preocupação ou para denunciar quem enriqueceu via corrupção, exceto quando a vizinha de um amigo do seu tio ganha na Mega-Sena.

Parafraseando a linda & louca Rita Lee, “meu único defeito é não ter medo de fazer o que eu gosto” ou de construir uma carreira profissional mais preocupada em quem eu quero ser daqui vinte anos do que em quanto eu devo estar ganhando quando chegar lá. Eu não sei se a satisfação é mais amiga do reconhecimento ou do dinheiro, pessoas diferentes vibram por motivos diferentes – que bom se a liberdade nos guiasse para o equilíbrio e não para a desigualdade e se o dinheiro sempre chegasse para quem “faz algo de importante para alguém”. Eu posso apostar que, no Brasil, quem se torna professor não está focado em acumular milhões. Por isso, então, vocês acham justo parcelar salários e depositar uma quantia de R$ 350,00 na conta desses profissionais – como ocorre agora no Rio Grande do Sul?

Ainda que um bom salário não seja sinônimo de reconhecimento – principalmente quando o indivíduo aluga um apartamento para esconder malas de dinheiro (Oi, Geddel!), o contrário deveria ser. Reconhecimento também é sobre moradia, alimentação, educação e saúde – e se elas estão à venda, dinheiro é dignidade. Quando você paga essa quantia para um educador, você está atingindo muito mais do que a parte financeira de sua vida – lembra quando eles escolheram esse ofício com o intuito de “fazer algo de importante para alguém”? Então! Onde há reconhecimento em um salário como esse?

A relação entre tempo e dinheiro não se limita a expressão. Tempo não é só dinheiro, tempo é justiça! Para saber se você está vivendo, pergunte-se se está fazendo algo de importante para alguém e se sentiu, ao longo do dia, um pouco de orgulho de ser quem você é. Entre o passado e o presente, o futuro é o mais sábio – só a vida ensina. A mãe que perdeu um filho hoje diz que o mundo era mais colorido ontem. A mãe que ganhou um filho hoje diz que o mundo é mais completo agora. No futuro, as duas se abraçam – sabedoria! Sempre é tempo de sonhar porque sempre há tempo para sonhar. O infinito diz: professores, façam barulho, a verdade ecoa!

Talvez a metáfora não sirva para todos, mas se o dinheiro é deles, o relógio é nosso. Ficamos com o que há de mais poderoso. Enquanto eles quantificam as nossas horas através de cifrões, nós transformamos os períodos em revolução. Já que os homens do Estado têm a pequenez de quem só pensa em dinheiro, então que reconheçam os professores da única forma que sabem: financeiramente. Seguimos, todavia, sendo grandes: sonhando com o dia em que a dignidade não possa ser comprada e os salários não sejam tão desiguais. Na pergunta “dinheiro ou reconhecimento?”, ambicioso não é quem escolhe o dinheiro, é quem o vê como uma mínima parte de tudo que o reconhecimento engloba.

Por Manuela Fantinel

Foto de Renan Mattos

 

Cronica falada

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